(Eu respirei fundo, porque a resposta não cabe num “sim” ou “não”)


Se meu filho me dissesse hoje:
“Pai, quero trabalhar com marketing”,
eu não daria nem um sermão e nem um tapinha nas costas.

Eu provavelmente chamaria ele pra sentar.
Respiraria fundo.
E pediria que ele lesse este texto.


Porque trabalhar com marketing…

não é o que dizem por aí.

Não é “ser criativo”.
Não é só “vender bem uma ideia”.
Não é “mexer com redes sociais”.
E, definitivamente, não é ser o mágico da verba curta que resolve tudo com um Canva e uma ideia “diferentona”.


É uma profissão incrível.

Mas também é uma encrenca silenciosa.
E se ninguém te falou isso… me deixa ser a pessoa que vai te contar.


1. Você não vai ser chamado num avião.

Enquanto gritam por médicos em voos de emergência, jamais gritarão: “tem algum profissional de marketing aqui?”.
Seu trabalho não será sobre salvar vidas…
Mas talvez você salve uma empresa do esquecimento.

Só que ninguém vai bater palmas por isso.
Vai parecer que “já era esperado”.


2. Seu conhecimento raramente será exigido.

Você pode estudar comportamento do consumidor, neuromarketing, precificação, ciclo de vida de produto…
Mas alguém vai dizer:

“Minha prima viu no Instagram um negócio legal, por que a gente não faz igual?”

E pronto. Lá vai você justificar 10 páginas de planejamento pra explicar por que a prima da pessoa não é o público-alvo.


3. Você será confundido com “o marketeiro do fulano”.

Sabe aquela campanha bizarra?
O discurso infeliz de algum político?
Ou a “estratégia” que não tem pé nem cabeça?

Vão dizer que “foi o marketing que mandou”.

E mesmo que você tenha alertado que ia dar ruim…
Seu nome não aparece no crédito. Só na culpa.


4. Você terá concorrência de todos os lados.

Desde o sobrinho do dono, passando por IA de design,
até o diretor financeiro que acha que entende mais de marca do que você.
Todos têm “boas ideias”.
Você? Tem que executar e ainda agradecer.


5. Você pode criar algo genial… e ninguém vai saber.

Se a ideia for sua, vai ser do “time”.
Se for do Zezinho do TI e você só operacionalizou…
Ele vai lembrar pra sempre que “a ideia foi dele”.


6. Todo mundo vai achar que você está “na festa”.

“Marketing vive em evento, brindando com cliente…”
Ou então dizem:

“Tá fazendo o quê agora? Um post no Instagram, né?”

Se soubessem quantas vezes você segurou o choro na frente de um dashboard…


7. As cobranças nunca batem com o que você entrega.

Você gera leads, fortalece a marca, aumenta o awareness, reposiciona a empresa, melhora o ticket médio…
Mas na hora de olhar o que “você fez no mês”, alguém pergunta:

“Mas e o panfleto da campanha? Você já mandou fazer?”


8. Você será visto como um cofre ambulante.

Em qualquer grupo, lugar ou evento, alguém vai dizer:

“Você que cuida do marketing, né? Consegue um patrocínio pra gente?”

Sem briefing.
Sem aderência.
Sem nem saber o nome da sua marca.


9. Suas ideias serão questionadas por “intuições” e IA genéricas.

Você pesquisa, compara, analisa dados reais.
Faz um plano estratégico inteiro.

E alguém rebate dizendo:

“Eu pedi na IA uma ideia aqui rapidinho… olha essa alternativa.”

(A IA nem sabe o CAC da empresa. Mas beleza.)


10. E ainda assim… vale a pena.

Se você gosta de resolver problemas complexos,
de impactar gente de verdade com ideias bem pensadas,
de colocar propósito no que parece invisível…
o marketing pode ser o seu lugar.

Mas não romantize.
Não entre por status.
Não vá achando que será valorizado só por estar na área.


Então o que eu diria ao meu filho?

Diria que o marketing mudou minha vida.
Mas me mudou também.
Me ensinou a explicar o óbvio, a defender ideias, a aceitar o crédito parcial e a celebrar a vitória coletiva.

E que, se ele escolher esse caminho, que saiba:
vai precisar de muita casca grossa e um coração ainda mais forte.

Porque essa profissão não é sobre vender.
É sobre convencer, construir, aguentar e, ainda assim, inspirar.


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